27 junho 2010
23 junho 2010
houve um dia destas semanas que pedi...
...para levarem o indicador de cada mão ao nariz. e depois de tanto, tanto esforço não conseguiram cumprir esta tarefa tão simples.
[medo]
[medo]
18 junho 2010
um sorriso delimitando infinitos pactos de entendimento numa arca de alianças eternas dos homens de boa vontade *
O debate tinha chegado ao fim. Dois sábios tinham arguido os seus pontos  de vista tão opostos como o fogo e a água. "a Pilar como se dissesse  água". Tinham brandido naipes de conceitos que buscam há décadas em  abismos de milénios profundos. E jogaram-nos em palavras de infinita  precisão. Mais de 70 anos de um lado. Mais de 80 do outro: - Não tenho  87. Tenho 86. Diz um grito de rispidez de quem sabe que doze meses de  vida são 365 milhões de eternidades. Ou 366. "a Pilar, que não deixou  que eu morresse". "Também eu estive muito doente, de resto só esta  semana é que voltei a dar aulas" disse o outro. Falaram de Deus e de  deus com a eloquência dos conhecedores que já tinham pressentido os fins  de tudo e tinham regressado mais um bocadinho. "a Pilar, os dias  todos". Falaram da Palavra que ficou repetida em mil livros e mil  línguas. "a Pilar, que ainda não havia nascido, e tanto tardou a  chegar". Falaram da palavra que ficou e da que foi perdida. Da palavra  do senhor que não se ouviu e da do Senhor que foi inventada. Falaram do  princípio dos tempos que os dois procuram como nómadas por desertos  ouvindo os murmúrios divinos que ambos julgam escutar. Um, os silêncios.  O outro, os cânticos. Discutiram tudo isto com um reluzente  brilhantismo apaixonado. Falaram sempre com uma afagante cordialidade  que contagiou. Que enterneceu. Que foi solene. Que foi importante. Um  apelo no fim. "Que a Declaração Universal dos Direitos do Homem inclua o  direito à dissidência. E o direito à Heresia. "Oh homem, você não pode  ser herege, não precisa disso se não acredita. Eu sim. Se escrevesse  isso seria herege". Disse, defendendo as imagens e interpretações que  vão adaptando o bem e o mal divino à vontade humana. "Mas quem é que vos  deu o direito para alterar…para interpretar a Bíblia". E acabou.  Infelizmente. Carreira das Neves o Catedrático franciscano foi o  primeiro a levantar-se e a chegar-se a Saramago (ainda sentado) e num  longo afago mascarado de aperto de mão prometeu uma ida a Lanzarote.  "Qualquer dia". "Isso enchia-me de felicidade" Disse Saramago abrindo  mais um sorriso delimitando infinitos pactos de entendimento numa arca  de alianças eternas dos homens de boa vontade. Eu fiquei aos 62 anos  subitamente cheio de vontade de chorar e de gratidão. Porque vivo no  país de Saramago que tem como pátria a minha língua. Porque viajo com  ele em jangadas de pedra que cruzam atlânticos e em passarolas que  passam por cima da profunda maldade dos banais. Porque saltito pelas  cortes de reis passados e impérios futuros montado no elefante mágico  que ele nos deu para impressionarmos o universo. Porque sou também da  pátria dele e sei que ele há-de viver por muitos anos nas ruas da minha  cidade e ocasionalmente eu posso cruzar-me com ele, como a Joana Latino,  minha colega, disse que gostava de fazer quando o entrevistou em  Lanzarote. Porque ele vai continuar a ajudar-me a entender mais mundos  que ainda não foram descobertos e que ele já conhece, porque viveu  sempre na terra de amanhã onde eu nunca entrei. E que mos vai dando um a  um. E eu fico mais rico. Porque ele vai continuar a começar os seus  livros com dedicatórias encantadas com os hinos à vida de infinita  beleza que só ele sabe compor. "a Pilar, a minha casa". Porque "sábio é o  que se contenta com o espectáculo do mundo" como disse Ricardo Reis no  ano da sua morte. Porque só há um país no mundo inteiro que tem um José  Saramago e é o meu país. E o dele. Graças a Deus.
* Mário Crespo
[o encontro, esse era para ser em Agosto]
16 junho 2010
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