Páscoa de passagem, de ressurreição... e de Aliança!
E foi tarde, e foi manhã... e foi o primeiro dia da Ressurreição!
Em tempo pascal, de ressurreição e de esperança na certeza da vida que vence a morte, estamos aqui, estamos todos aqui, neste aqui e neste agora deste tempo intemporal que nos habita, neste Dois Mil e Hoje do tempo que é nosso, da Páscoa que é nossa, da Ressurreição que nos toca construir; na passagem e nas passagens, que a vida nos traz e que no tempo e com tempo, vamos cumprindo, às vezes a “destempo” mas sempre em direcção à eternidade que é já.
Chegados a esta Páscoa, vindos de outras páscoas e de outras ressurreições de outras mortes que os senhores do tempo nos têm vindo a impor, e que alguns senhores de algum “templo” nos têm dificultado a viver, celebrar as “Páscoas” é celebrar e gritar o grito urgente para o tempo que é hoje.
Um tempo desesperadamente “solteiro”, de uma “solteironice” amargada e triste, geradora de uma espécie de depressão bipolar colectiva incapaz de descobrir, por mais que as procure, as endorfinas capazes de reverter a situação, ou o magnésio ou o lítio do nosso contentamento… uma espécie de virose ou bacteriose resistente aos “antibióticos”, por demais buscados, investigados, experimentados, mas que não resolvem a situação… falta-nos o ácido clavulânico, capaz de vencer as resistências… capaz de destruir as beta-lactamases das nossas barreiras protectoras e inibidoras… do nosso ser relação…
Perdoem-me os leitores menos habituados a estas linguagens, hoje deu-me para isto!
Eu explico…
Falamos muito de história da salvação, mas falamos pouco da história da Aliança. Como que esquecemos que a história só poder ser vista como História de Salvação se nela formos capazes de ler e ver a Aliança em acto, se formos capazes de regressar à intuição primeira dos patriarcas, intuição esta que levou Moisés, Abraão, Isaac, Jacob… e tantos outros a poderem olhar o tempo e a eternidade como se vissem o invisível, educando o olhar da alma e a alma do olhar para acreditar na vida quando tudo à volta eram sinais de morte, a acreditar na esperança quando tudo em redor era só “sem-sentido”, a proclamar a vida, quando tudo à volta era morte, destruição e luto…
Podem cair mil à tua esquerda e dez mil à tua direita,
que tu não serás atingido. (Sl 90)
Aqui, não estamos diante de uma esperança bacoca, de uma fé cega e confrangedoramente alienadora e/ou alienante. Tudo menos isso! A fé a descobrir, a vivência da fé a fazer, é aquela que é capaz de nos conduzir para além do medo, porque é a única capaz de empurrar para a relação, para o Tu de Deus, que comigo, na Aliança e pela Aliança quer construir e constrói, um Nós, se Eu deixar…
Este é o Tempo de celebrar Ressurreição e Aliança! Este é o tempo de estarmos aqui, de sermos assim. Este é o Tempo de o Templo se transformar em sinal inequívoco de Ressurreição e de Aliança. Este é o Tempo de sermos nós, gente com gente, para que cada vez mais gente seja gente e nunca ninguém deixe de ser pessoa.
Frei Fernando Ventura