07 novembro 2007

Se calhar é, mas a questão está em a gente se perguntar se aquilo que andamos a viver responde ou não à chamada do que pressentimos dentro de nós. Sabes que não me julgo melhor do que os outros, acho é que, a certa altura, fiz as minhas opções (...). Sinto um enorme enternecimento pelas pessoas mas, algumas vezes, quando vejo a maneira como se vive dentro da pequenez das aspirações, a mesquinha intriga da comédia humana, compreendo aquele sorriso de Deus que conta Alberto Caeiro: "Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens / E ele sorri porque tudo é incrível". O sistema tem que andar e até há pessoas que nele se sentem bem. Tenho é pena daqueles que trocam a riqueza do que têm por dentro em inquietação e risco pela comodidade que ele lhes dá. (...)
É muito incómodo viver em tempo de mudança. A gente sofre muito mais por causa das coisas herdadas do que por causa de coisas escolhidas. Os modelos em que vivemos não servem mas não sabemos ainda onde vamos morar. Ficámos presos nas ruínas das casas antigas e não conseguimos libertar-nos delas. (...) as coisas, mais que a nossa vontade, dependem do peso dessa herança desmoronada. As instituições, mesmo em ruínas, permanecem erguidas no subconsciente até daqueles que se querem livres. Depois, é preciso não confundir o problema do amor com o da nossa solidão porque o movimento do mundo nos faz estar cada vez mais sós e as pessoas não aprenderam ainda a estar consigo. (...)
Aquele que vive bem consigo é que pode amar e ser solidário, desinteressadamente.
in Riso de Deus de Alçada Baptista

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...velhas trapaças...