12 dezembro 2008

uma lua gigante


Ela disse:
- O mundo é tão bonito!
Eu comentei:
- O que faz isto bonito está dentro de nós. Muita gente fica indiferente a este Sol a nascer e quem tem ódio no coração fica lá com o ódio.
A Catarina estava com um brilho no olhar e parecia querer aspirar com as narinas tudo o que se estava a passar. Deixou cair uma frase como se fosse uma resposta ao que eu lhe tinha dito:
- Talvez fosse possível ensinar as pessoas a ver nascer o Sol…
Eu perguntei:
- E a ti, quem te ensinou?
- Tudo me ensinou: o meu pai. A minha mãe, o mundo em que eu nasci… Tudo mais ou menos me preparou para coisas destas. Viver é capaz de ser uma educação de sentimentos.
- Sim. É capaz de ser, só que nós temos uma imensa capacidade de sermos infiéis às coisas para que somos feitos.
in Catarina ou o Sabor da Maçã de António Alçada Baptista

06 dezembro 2008

agora, que sei que a minha alma é una e indivisível e me pertence só a mim, vivo a dificuldade de arcar com todos os meus defeitos, todas as minhas fraquezas, todos os meus pecados. eu sou este e não há volta a dar-lhe. não tenho desculpa, nem atenuantes e é bom que me aceite.
guardo para mais tarde pensamentos de regeneração. por enquanto não posso. (...)
deleito-me nesta coisa escondida, clandestina, que jamais puderei assumir (...)
quero, porque quero, continuar a encontrar-me (...) na antiga estrabaria, a amar e fazer-me amar, alimentar-me do seu sorriso perverso, do seu corpo de deus.
como uma sujeição, um vicío, uma dependência, preciso de vê-lo, de senti-lo, de fazê-lo meu. como um grito no escuro esta urgência que me acorda, que me faz sair da cama, esperá-lo na manta por cima do feno, antecipar os seus passos, a chama dos seus olhos negros, o ritual das suas mãos.
in a alma trocada de rosa lobato faria

[espero-te]

...velhas trapaças...