14 maio 2009

é pois um apaixonado que fala e diz: *

Há duas afirmações do amor. Primeiro, e logo que o apaixonado encontra o outro, há uma afirmação imediata (psicologicamente: deslumbramento, entusiasmo, exaltação, projecção louca de um futuro pleno: sou devorado pelo desejo, a impulsão de ser feliz): digo que sim a tudo (cegando-me). Segue-se um longo túnel: o meu primeiro sim está atormentado por dúvidas, o valor do amor está permanentemente ameaçado de depreciação: é o momento da paixão triste, a ascensão do ressentimento e da oblação. Deste túnel posso, no entanto, sair; posso «ultrapassar», sem liquidar; posso novamente afirmar o que já afirmei uma vez, sem o repetir, pois agora o que afirmo é a afirmação, não a sua contingência: afirmo o primeiro encontro na sua diferença, quero o seu regresso, não a sua repetição. Digo ao outro (velho ou novo): Recomecemos.

Nietzsche, na voz de * Roland Barthes in Fragmentos de um discurso amoroso

...velhas trapaças...