25 junho 2009

entardece devagar *



Entardece devagar. É a hora metafísica do silêncio, de a razão não ter razão. É a hora de a arrogância das convicções fazer menos barulho, de o mistério aparecer. Tarde do nosso tempo, do que declarámos em grandes berros e não era, das promessas a cumprir no túmulo, do ardor que se esvaiu em cansaço, das profecias garantidas a polícia, do horror justificado, do erro de ferro. Entardece, a noite vem aí. Da derrocada universal, o mistério como um fumo que se levanta. Olha, escuta. É a hora da verdade de seres, que é a única verdade. A noite vem aí. Vem devagar como uma suspeita oblíqua. E de tudo o que falhou e morreu, uma mão leve que desça sobre ti com a paz do adormecer.
* Vergílio Ferreira in Pensar

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