14 janeiro 2013

do desassossego de Soares/Pessoa *

Não é tédio o que se sente. Não é mágoa o que se sente. É uma vontadde de dormir com outra personalidade, de esquecer com melhoria de vencimento. Não se sente nada, a não ser um automatismo cá em baixo, a fazer umas pernas que nos pertencem levar a bater no chão, na marcha involuntária, uns pés que se sentem dentro dos sapatos. Nem isto se sente talvez. à roda dos olhos e como dedos nos ouvidos há um aperto dentro da cabeça.
Parece uma constipação na alma. (…) sim, não se sente nada. Passa-se conscientemente, a dormir só com a impossibilidade de dar ao corpo outra direcção, a porta onde se deve entrar.
in livro do desassossego de bernardo soares
 
* ou do meu desassossego no trabalho. chegar a casa é como chegar à minha arca de noé.

Nenhum comentário:

...velhas trapaças...