09 março 2014

sem título (ou não seria amanhã segunda)

Vieste e foste, ignoro se poderás voltar. Ontem, ao partires, não reparaste que me deixavas menos feliz. Embora tudo ficasse feito e decidido não sei que incompletude me abalou – talvez a espera. Perdi-me absurdamente no caminho e, por momentos, a luz libidinal do teu pensamento fugiu de mim. As coisas deixaram a concretude com que sempre as tinha conhecido. Sem perspectiva, nem letra. Ao regressar à terra, não quis escrever no teu caderno. Arranquei-lhe apenas esta folha. Fui um pobre corpo. Rasguei-me a mim próprio e quis deitar-me fora. Por isso te deixo este bilhete. Vieste e foste. Não foi por isso que te amei menos. Em mim, não se realizou a tua conjectura sobre a ressurreição da carne. Reconhecerás tu, neste impulso da visão, uma carta de amor?
Maria Gabriela Llansol

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...velhas trapaças...