14 fevereiro 2015

poemas de amor

[não, não ligo à data]

Esta manhã foi-me dado um verso mas antes
de o dizer direi
que sinto a melancolia que o poeta sente
antes de escrever o seu poema. Nada 
mais. O verso
foi-me dado sem o pedir estava eu 
a ornamentar com pétalas da minha boca
a pele de quem amo, a desviá-las
de um vale para o outro, do ventre para os seios
dos seios para o pescoço
os dedos a boca os cabelos
enquanto ouvíamos o álcool dos anjos
Stabat Mater de Pergolesi e subitamente
lembrei-me que beijos são pequenos animais
perseguidos, conchas de som que nascem
junto dos ribeiros que vão correndo para os campos
de batalha onde foram ninhos de
cerejeiras; estava eu a despir a camisa
de quem amo e foi então que o verso
caiu, dois versos, entre o meu corpo e o corpo
dela como se eu o tivesse copiado
de um poema de Kavafis: O rio mais íntimo que posso dar-te
é o silêncio. E continuei a amá-la
silenciosamente.
 
Casimiro de Brito in Livro das Quedas


das melhores coisas que já se escreveram. e estamos a menos de duas semanas do início das Correntes


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...velhas trapaças...