15 abril 2009

Quero sempre ver *

Queria ver o crepúsculo. Quero sempre ver. Fiquei alguns minutos, adâmico no meu entusiasmo. Um vermelho intenso desatava-se por entre as nuvens.



De repente apareceu a gaivota, em chamas. Fui com ela até contornar o prédio, onde se perdeu.


Vou-me embora muitas vezes à procura desses momentos. São os meus templos. Sempre que posso descalço-me, sangro pelos caminhos. Até que, num instante de luz, descubro a saída dos meus labirintos.

Não é ser romântico, que veleidade. Amo a dor do belo, aquilo que me transcende e está fora do meu alcance. Amo a considerável força do mistério, a torrente de energia que pulveriza o amor e o deixa assim, frágil, a levitar no universo.

Não sou daqui, parti há muitos anos. Vivo um tempo emprestado. Tanta areia na minha voz, tanto deserto.

Fui ali ver o crepúsculo. Quando saí já a noite, dura, engolia a paisagem.

* Eduardo Bettencourt Pinto

Um comentário:

...velhas trapaças...