No dia do seu funeral, enquanto eu regressava a Lisboa, houve uma pedra pequena que me acertou no pára-brisas. Vi-a lançar-se do atrelado de um camião, aproximar-se num arco e acertar no vidro. Não o partiu, mas deixou-lhe uma marca. uma cicatriz no vidro: encontro simbolismo nessa imagem quotidiana. E continuo aqui. Podem imaginar-me uma expressão que vos pareça apropriada, podem imaginar esta luz, a temperatura do silêncio à minha volta, o antes e o depois. Eu continuo aqui, um corpo, uma presença, neste mistério feito de dias sucessivos, feito de anos baralhados, nesta espécie de tempo.
*José Luís Peixoto, Visão 11 de Fevereiro de 2010
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