28 fevereiro 2010

esta manhã foi-me dado um verso*

Esta manhã foi-me dado um verso mas antes
de o dizer direi
que sinto a melancolia que o poeta sente
antes de escrever o seu poema. Nada
mais. O verso
foi-me dado sem o pedir estava eu
a ornamentar com pétalas da minha boca
a pele de quem amo, a desviá-las
de um vale para o outro, do ventre para os seios
dos seios para o pescoço
os dedos a boca os cabelos
enquanto ouvíamos o álcool dos anjos
o Stabat Mater de Pergolesi e subitamente
lembrei-me que beijos são pequenos animais
perseguidos, conchas de som que nascem
junto dos ribeiros que vão correndo para os campos
de batalha onde foram ninhos de
cerejeiras; estava eu a despir a camisa
de quem amo e foi então que o verso
caiu, dois versos, entre o meu corpo e o corpo
dela como se eu o tivesse copiado
de um poema de Kavafis: O rio mais íntimo que posso dar-te
é o silêncio. E continuei a amá-la
silenciosamente.

Casimiro de Brito in Livro das Quedas

[...esta noite foi-me dado um verso...]

24 fevereiro 2010

tenho que recorrer novamente à palavra "generosidade" *

não é possível salvar
os amantes,
condenados pelos pecados originais
da fala
Maria Teresa Horta

* Eduardo Prado Coelho

[bem-haja pela generosidade, e continuação de boas escritas.]

anda, vem sentar-te comigo nesta falésia, anda ver o mar *

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Não esqueço
nada: abraçado
à chama dos meus dias
também ardo
sabendo que sou
já cinza.
* Casimiro de Brito

16 fevereiro 2010

do you want build a home with me?



build a home, a family... build a life!

15 fevereiro 2010

rainbow nation *

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.
* Invictus

i say: rainbow world
i say: rainbow world thanks to you and your unconquerable soul

11 fevereiro 2010

e continuo aqui (nesta espécie de tempo) *

No dia do seu funeral, enquanto eu regressava a Lisboa, houve uma pedra pequena que me acertou no pára-brisas. Vi-a lançar-se do atrelado de um camião, aproximar-se num arco e acertar no vidro. Não o partiu, mas deixou-lhe uma marca. uma cicatriz no vidro: encontro simbolismo nessa imagem quotidiana. E continuo aqui. Podem imaginar-me uma expressão que vos pareça apropriada, podem imaginar esta luz, a temperatura do silêncio à minha volta, o antes e o depois. Eu continuo aqui, um corpo, uma presença, neste mistério feito de dias sucessivos, feito de anos baralhados, nesta espécie de tempo.
*José Luís Peixoto, Visão 11 de Fevereiro de 2010

07 fevereiro 2010

Tocamo-nos um ao outro, e como? Por golpes de asa, / mesmo à distância sentimos a presença do outro. *

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Vinhais (porque foi exactamente assim - a janela abriu-se e a montanha entrou impetuosamente)

* Rilke

levantei-me e parti **. fui em direcção à montanha. encontrei igrejas lindíssimas, castelos, conventos, caretos, nativos...
Amei a existência**


**Al Berto

03 fevereiro 2010

o meu espelho eram os olhos dos homens *

Mas o que sabíamos nós da vida real? Aos 17 anos entrei para a Faculdade sem fazer a mínima ideia do que isso fosse. Aos 19 casei-me, ainda completamente em branco (e não me refiro só à cor do vestido). Só seis anos, três filhos e centenas de livros mais tarde é que resolvi arrumar os meus valores como quem arruma um guarda-vestidos. Isto não, isto não se usa, isto não gosto, isto sim, isto seguramente, isto talvez. Os preconceitos foram os primeiros a desandar, assim como todos os itens que à pergunta porquê só me tinham respondido porque sim, ou, pior, porque sempre foi assim. E eu, tumba, lixo, se sempre foi assim é altura de deixar de ser e começar a abrir caminho às gerações futuras (ainda não sabia que entre os meus 12 netos se contariam nove mulheres). Ouvi ontem uma jovem a dizer, a revolução que nós fizemos nos últimos anos. Não meu amor: a revolução que NÓS fizemos nos últimos 50 anos. Mas não interessa quem fez o quê. É preciso é que tenha sido feito. E que seja feito. E eu fiz tudo, quando ainda não era suposto. Quando descobri que ser livre era acreditar em mim própria, nos meus poucos, mas bons, valores pessoais.
* Rosa Lobato Faria, por voz própria

...velhas trapaças...