Alejandro Toledo ficou muito impressionado, a tal ponto que decidiu fazer
um spot televisivo para a Caritas, chamando a atenção para a importância do
trabalho humanitário. O resultado foi um filme comovente. Teria custado 40 mil
euros. Mas todos os que nele participaram o fizeram gratuitamente. O homem que
representa o novo pobre de Madrid é um malabarista que Toledo encontrou na rua.
A menina que faz de sua filha é a filha de Toledo, o autor da campanha.
A primeira cena
mostra-nos uma rua movimentada, fim de dia. A cidade já iluminada, reflexos de
luzes nos estabelecimentos. Um homem, ainda jovem, caminha com uma menina. Agora
ela pára. Encosta a cara ao vidro da montra. Tem um gorro roxo, uma mochila. Não
larga um urso de peluche que aperta contra o peito.
O homem puxa uma enorme mala de viagem com rodas. Há uma loja de frutas.
Atravessam, agora, um centro comercial. A menina chora junto a uma das montras.
Depois senta-se no passeio. O pai incita-a a que prossiga. Estugam o passo,
puxando a grande mala. O rosto do homem cruza-se com o de uma deusa da
publicidade, num cartaz. Escureceu. É a menina que puxa agora a grande mala,
como se fosse um cão pela trela. A casa pela trela. Há grupos de sem abrigo
estendendo os seus cartões. O homem e a menina hão-de fazer o mesmo,
adiante.
Agora amanheceu. Caminham de novo pelas ruas, entram na casa onde outros
esperam não se sabe o quê. Podia ser uma sala de espera de um hospital.
Sentam-se, o homem coloca uns sacos de plástico na cadeira ao lado. A menina não
larga o urso de peluche. A fila começa a mover-se. Mulheres de bata branca
estendem aos da fila embalagens com alimentos.
Saem para a rua. Agora estão sentados num banco de jardim. O homem abre a
embalagem. É sopa, ainda fumegante. Ele dá sopa à menina. Talvez conte uma
história enquanto leva a colher de sopa à boca da filha. Há um homem que toca
acordeon. O homem e a filha sorriem. Abraçam-se. A menina corre para um
escorrega.
...
Cala-te, Sarkozy. Um pouco de pudor. Verguenza.
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