27 dezembro 2007

...Mãe Natureza em todo o seu esplendor...
...si el amor, bendito nómado, se aloja contigo, agasájalo...
Nasafi

16 dezembro 2007

...escrever é um modo falsamente inofensivo de nos suicidarmos...
Al Berto

12 dezembro 2007

Será possível um corpo ter muitos rostos? E um rosto deixar indeléveis vestígios na passagem por muitos corpos? (...) Afinal não passo de um depredador da minha própria noite. Sou uma nódoa de sangue e de esperma manchando a noite alheia. (...) O medo (...) - o medo, sossego-o eu ao devorar aquele que seduzi. Depois, abandono-o à iminência da minha fuga. Sempre fiz isto, não sei porquê. Largo-o ao seu próprio sofrimento e vou, silente pelas ruas, procurar os sinais da paixão. E naquele que seduzir em seguida amarei o outro que, irremediavelmente presente, acabei de perder. Assim, sucessivamente, até aos confins dos meus dias... (...) Nunca consegui misturar-me nos outros corpos, estão demasiado vivos, doem-me quando lhes toco. Observo-os, uso-os, e no entanto mantêm-se tão distantes. Se calhar envelheci mais depressa ao tocá-los. A dor vai sulcando o rosto e comprimindo o coração, não sei... talvez seja apenas o receio da noite com os seus desmedidos poços de cinza. (...) Agora sou espectador daqueles que são incapazes de partilhar comigo o que possuem. No fundo estou-me nas tintas para isto tudo. Tornei-me ladrão. Roubo-lhes um beijo, uma erecção, um gemido de esperma, uma carícia... roubou-lhes tudo o que posso e estou-me nas tintas... é isso mesmo, estou-me nas tintas para o que pensam. Nada tenho a perder, a sedução é uma das artes do ladrão, raramento me deixo roubar. Mas que te importa tudo isto, Beno? Sossega, sossega porque o mundo está sujo de indiferença...
in Lunário
Al Berto

03 dezembro 2007

(...) Pois é. Naquele tempo o demónio andava por fora. Agora, se calhar anda por dentro de nós. Ele não precisa de ser chamado e está sempre à espera de que a gente lhe dê uma oportunidade. (...)
In Catarina ou o Sabor da Maçã
António Alçada Baptista

29 novembro 2007

Garatujar
do It. grattugiare, esfarelar com ralo

v. tr. e int.,
cobrir com garatujas;
fazer garatujas;
rabiscar.

07 novembro 2007

Se calhar é, mas a questão está em a gente se perguntar se aquilo que andamos a viver responde ou não à chamada do que pressentimos dentro de nós. Sabes que não me julgo melhor do que os outros, acho é que, a certa altura, fiz as minhas opções (...). Sinto um enorme enternecimento pelas pessoas mas, algumas vezes, quando vejo a maneira como se vive dentro da pequenez das aspirações, a mesquinha intriga da comédia humana, compreendo aquele sorriso de Deus que conta Alberto Caeiro: "Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens / E ele sorri porque tudo é incrível". O sistema tem que andar e até há pessoas que nele se sentem bem. Tenho é pena daqueles que trocam a riqueza do que têm por dentro em inquietação e risco pela comodidade que ele lhes dá. (...)
É muito incómodo viver em tempo de mudança. A gente sofre muito mais por causa das coisas herdadas do que por causa de coisas escolhidas. Os modelos em que vivemos não servem mas não sabemos ainda onde vamos morar. Ficámos presos nas ruínas das casas antigas e não conseguimos libertar-nos delas. (...) as coisas, mais que a nossa vontade, dependem do peso dessa herança desmoronada. As instituições, mesmo em ruínas, permanecem erguidas no subconsciente até daqueles que se querem livres. Depois, é preciso não confundir o problema do amor com o da nossa solidão porque o movimento do mundo nos faz estar cada vez mais sós e as pessoas não aprenderam ainda a estar consigo. (...)
Aquele que vive bem consigo é que pode amar e ser solidário, desinteressadamente.
in Riso de Deus de Alçada Baptista

06 novembro 2007

- Vou guardar as tuas mãos na paixão que tenho por ti, mas não te posso revelar o meu nome, nem precisas de o saber.
Chama-me o que quiseres, dá-me um nome para que possamos amarmo-nos.
Aquele que tinha perdi-o no caminho até aqui.
Pertencia a outra paixão, e já a esqueci.
Dá-me tu um nome para eu poder ficar contigo...
Al Berto

05 novembro 2007

O sofrimento também está inscrito na nossa vida e, algumas vezes, o uso da nossa liberdade, faz sofrer os outros. Paciência. Devemos é ter cuidado em não os magoar mas às vezes não prevemos que isto possa ser possível e que possa perturbar o caminho da nossa liberdade. (...) Tudo, mesmo o magoar, pode ser feito com amor.
in Tecido Outono
António Alçada Baptista

04 novembro 2007


How can it be, has the whole world turned blind?
Or is it just ’cause it’s only affecting my kind?!

28 outubro 2007



De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Moraes

...assustadoras pirâmedes...

25 outubro 2007

A vida foi construída a partir de linhas rectas e curvas, círculos imperfeitos assustadoras pirâmedes, triângulos inacessíveis. Cada um de nós se ergue destes elementos, enquanto Deus espia o nosso espanto; e com, aqueles elementos duma grande simplicidade erguemos, também, o inferno lento dos dias.
Al Berto

12 outubro 2007

Trago-te o mar, as nuvens que só as crianças sonham a vermelho. Trago-te a terra que te transformou em húmus e a seiva morna das árvores, a dor que a vida faz a latejar no pulso dos homens sozinhos... e o tempo, essa doença dos vivos eternizou-nos. Noite após noite, falo-te, amo-te sem que o saibas. Posso tocar-te sem sentires sequer a minha presença. Posso estar, sem estar. Trago a cinza das horas nos cabelos e os dias da paixão onde não há dias nenhuns. Trago-te as palavras, e este cigarro que fumaremos os dois... e do mar recolhi esta coroa de rubras escamas e o silêncio dos náufragos... uma concha, um punhado de sal e a moeda de ouro que te enterro na boca antes de prosseguires viagem.
Al Berto
in O Anjo Mudo

08 outubro 2007

"Deixa o coração apaixonar-se pelas paisagens enquanto a alma, no puro sopro da madrugada, se recompõe das aflições da cidade."
Al Berto

03 outubro 2007

Fazes muito mais que o sol


Crianças crianças... fazem muito mais que o sol :)

27 setembro 2007

Trabalhos do Olhar

Escrevo-te a sentir tudo isto...
e num instante de maior lucidez poderia ser o rio
as cabras escondendo o delicado tilintar dos guizos
nos sais de prata da fotografia
poderia erguer-me como o castanheiro dos contos
sussurrados junto ao fogo
e deambular trémulo com as aves
ou acompanhar a sulfurica borboleta revelando-se
na saliva dos lábios
poderia imitar aquele pastor
ou confundir-me com o sonho de cidade
que a pouco
e pouco morde a sua imobilidade.....

...habito neste país de água por engano
são-me necessárias imagens , radiografias de ossos
rostos desfocados
mãos sobre corpos impressos no papel e nos espelhos
repara.....
nada mais possuo
a não ser este recado que hoje segue manchado
de finos bagos de romã
repara....
como o coração de papel amareleceu no esquecimento
de te amar.....
Al Berto

25 setembro 2007

Envolver-me
na mais obscura solidão das searas e gemer
Amassar com os dentes uma morte íntima
Durante a sonolência balbuciante das papoulas
Prolongar a vida deste verão até ao mais próximo verão
para que os corpos tenham tempo de amadurecer

...colher em tuas coxas o sumo espesso
e no calor molhado da noite seduzir as luas
o riso dos jovens pastores desprevenidos... as bocas
do gado triturando o restolho.... as correrias inesperadas
das aves rasteiras

...e crescerei das fecundas terras ou da morte
que sufoca o cio da boca...
...subirei com a fala ao cimo do teu corpo ausente
transmitir-lhe-ei o opiáceo amor das estacões quentes.

Al Berto

24 setembro 2007

..."mas hoje, ainda longe daquele grito, sento-me na fímbria do mar. Medito no meu regresso. Possuo para sempre tudo o que perdi. E uma abelha pousa no azul do lírio, e no cardo que sobreviveu à geada. Penso em ti. Bebo, fumo, mantenho-me atento, absorto – aqui sentado, junto à janela fechada. Ouço-te ciciar amo-te pela primeira vez, e na ténue luminosidade que se recolhe ao horizonte acaba o corpo. Recolho o mel, guardo a alegria, e digo-te baixinho: Apaga as estrelas, vem dormir comigo no esplendor da noite do mundo que nos foge."...

Al Berto

21 setembro 2007

20 setembro 2007

"...Autoridade vem de um verbo latim que significa "ajudar a crescer". Autoridade é bondade..."

19 setembro 2007

"À l'aurore, armés d'une ardente patience, nous entrerons aux splendides villes"
Rimbaud

18 setembro 2007

Falta-me tempo para celebrar o teu corpo. Celebrar parte por parte, a mais ínfima parte... louvá-lo. Pegar-te pela palma da minha mão, mergulhar e deixar o meu corpo entrar nessa celebração. Para que o mais que me é dado sentir tenha a maior manifestação nesta entrega. Olha os olhares e as ternuras preguiçosas. Que arrastam os corpos e os ondeiam de serenidade. Consegues vê-los?... É a forma maior da minha transcendência.

17 setembro 2007

..."O que vamos servir? ... Mário ... só atinou a aperfeiçoar o seu silêncio. Então, Beatriz dirigiu o imperativo olhar para o seu acompanhante e emitiu com uma voz modulada por essa língua que fulgurava entre os abundantes dentes, uma pergunta que noutras circunstâncias Neruda considerava rotineira:
- E a si, o que vamos servir?
- O mesmo que ele."...

in O Carteiro de Pablo Neruda
..."- ... os ectcéteras! Pensa que o mundo inteiro é uma metáfora de qualquer coisa?"...

in O Carteiro de Pablo Neruda

15 setembro 2007

"Entaramela-se-me a língua no acto de dizer mas não na inteligência e o sentir no acto de sentir e entender. Mundo virgem no infinito mistério e a realidade de si no instante de se criar, de existir, de aparecer. Oh, não te distraias. E economiza átomo a átomo, filamento a filamento a virgindade de toda a revelação. Para que a tua vida se esgote no esgotá-la. Para que nada fique do que ainda te pertence quando não te pertencer. Para que sobre a terra haja um homem que és tu que nada tenha desperdiçado do que veio ter consigo. Para que todo o mistério da vida se aproveite no teu aproveitá-lo. Para que toda a magnitude do que existe não tenha sido em vão. E tudo possa morrer contigo e não fique de ti na sua inutilidade."

in "Para Sempre"
Vergílio Ferreira

14 setembro 2007

Estamos condenados ao esquecimento.

13 setembro 2007

"Podemos olhar a fé como algo em relação ao qual racionalmente nos sentimos superiores, mas ao mesmo tempo não podemos deixar de sentir que há naquela certeza tão absoluta, naquela confiança tão desmedida nas palavras, algo que nos suscita alguma inveja"

"Mas o mais que me foi dado sentir, ou pensar, ou desejar, foi o excesso de algo que no sensível não é apenas sensível"
Eduardo Prado Coelho
"Tenho para mim que a mulher faz o amor, na força do seu espírito, na pujança da sua ternura e do seu dom, na intuição da verdade e do amor, na pertinácia com que o procura e se lhe entrega, na fecundidade que nela se torna vida; é no seu regaço que o homem aprende a amar."

"e nessa aventura de relação amorosa, o reconhecimento do mistério do outro faz-se, antes de mais, pela ternura. O próprio dom do corpo, acolhendo o outro que se entrega, encontra na ternura o seu sentido mais sublime"
D. José Policarpo

05 agosto 2007

O Sorriso

Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.

Eugénio de Andrade

31 julho 2007

...I'm sorry I missed you. I had a secret meeting in the basement of my brain. It went the dull and wicked ordinary way...
The National

30 julho 2007

Não percebo o silêncio.
...hang your holiday rainbow lights in the garden...
The National

27 julho 2007

Inquietações

Levitar. Deixar de pensar! Será possível?

26 julho 2007

Inquietos

Apesar de muitos despertarem sorrisos de paz, de tranquilidade, muitos deles despertam sentimentos de angústia.
Como me sabia bem libertá-los da mente. Ficar livre. Levitar.

...sorrisos de paz...

Os meus pensamentos...

...velhas trapaças...